quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Anotações sobre Santiago

O Chile nos trouxe grandes surpresas. Não esperávamos encontrar uma cidade tão grande como é Santiago, muito menos uma capital tão bem organizada em termos de infra-estrutura, planejamento urbano e transportes. Também descobrimos que o Chile conta com uma vida cultural bastante ativa - enquanto estivemos aqui, dois grandes festivais, de cinema e teatro, aconteciam simultaneamente, além de outras produções culturais independentes. As calçadas são largas, as ruas arborizadas e as pessoas muito simpáticas, especialmente em relação aos brasileiros.


Vista do Cerro San Cristóbal - ruas retas e quadras demarcadas

Descobrimos que, ao contrário do Paraguai, Uruguai e Argentina, aqui o Ensino Superior está estruturado de uma maneira muito parecida à do Brasil: é preciso fazer um exame para a entrada, como o vestibular, e é mais difícil ingressar nas universidades públicas (cujo prestígio é maior devido ao seu trabalho voltado à pesquisa) que privadas. Aqui, a tendência é que estudantes das classes menos favorecidas estudem em instituições privadas - o que os leva a fazer financiamentos que os deixarão endividados por muitos anos. Para nossa surpresa, as universidades públicas também são pagas aqui - custam cerca de R$600 por mês (valor que também pode ser financiado, porém a juros mais baixos).


Casa de Pablo Neruda - La Chascona

Também nos deparamos com um país bastante machista em termos gerais. Se na Argentina e Uruguai as relações de gênero pareciam apontar em direção a uma menor disparidade, no Chile há ainda muito trabalho por fazer. Algumas escolas de Ensino Médio ensinam "Economia Doméstica" com o objetivo de mostrar às futuras donas de casa como cozinhar, costurar, administrar as finanças do lar etc. O aborto é totalmente proibido - inclusive o terapêutico (ou seja, mesmo em caso de risco de vida - da mãe ou do bebê - ou de estupro, não se concede o direito à interrupção da gravidez). É freqüente a cena de homens na rua comentando sobre ou abordando as mulheres que passam.


A cidade tem a Cordilheira dos Andes ao fundo

Outra grande surpresa que tivemos foi que, alguns dias antes da nossa chegada, foi eleito o futuro presidente do país, Sebastián Piñera, numa virada à direita depois de 20 anos de centro-esquerda (o Chile não havia sido governado pela direita desde Pinochet). Apesar de controversa - foi alegada irregularidade nas primárias -, sua eleição traz à tona debates muito interessantes sobre a esfera política chilena. O primeiro ponto é que alguns setores da população se queixavam da inércia do partido anterior, que já fazia mais articulações para seu próprio interesse que políticas públicas, devido ao longo período em comando. Em segundo lugar, há um retorno das discussões sobre a liberdade de pensamento, já que algumas das medidas já anunciadas do futuro governo é reduzir os impostos aos livros - porém, somente aos livros "bons" (os demais continuam a ser taxados normalmente). Ainda está em jogo uma terceira questão, sobre a relação entre política, economia e meios de comunicação: Piñera é um grande acionista de três grandes empresas chilenas - a LanChile, a Chilevisión e o time de futebol Colo-Colo. Apesar de haver prometido vender suas partes nestas companhias caso ganhasse o pleito, Piñera voltou atrás e decidiu mantê-las.

Agora, a Caravana se despede de Santiago e parte em direção ao Norte do país, onde conheceremos o deserto do Atacama...

4 comentários:

  1. Vocês parecem muito bons em julgamentos. Como podem definir um país como "bastante machista" com apenas alguns poucos dias passando pelo local? Conhecendo apenas algumas pessoas? Em uma única cidade (ainda que seja a capital)?

    Acho que os representantes brasileiros deveriam pensar melhor a forma como se expressam no blog. As informações aqui postadas estão abertas para toda a comunidade e não deveriam refletir preconceito ou julgamentos precipitados.

    Charles Novaes de Santana

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  2. Estou adorando a viagem...é isso mesmo...estou viajando com todos voces pela internet.
    Me emocionando com os encontros e descobrindo tantos lugares maravilhosos.
    Uma inesquecível experiência.
    Aproveitem cada segundo dessa viagem.
    Beijos e abraços a todos!

    Cristina Castro

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  3. Caro Sr Charles,

    Primeiramente gostaria de agradecer pelo comentário - críticas e sugestões quanto à administração deste blog são sempre bem-vindas. Em segundo lugar, gostaria de enfatizar que este texto foi escrito por uma das participantes e não reflete a opinião de todos. Por último, reconheço que o julgamento foi precipitado - e inclusive bastante pretensioso. Seria mais justo ter me referido ao machismo institucional, já que os exemplos citados dizem respeito a uma lei federal, de proibição do aborto, e a cursos ministrados em escolas secundárias em todo o país. Ficarei mais atenta nos próximos posts! Para um relato mais formal e cuidadoso, por favor visite nosso site oficial: www.inulat.ufba.br

    Atenciosamente,
    Camila A. C. Kowalski.

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  4. Acredito que os comentários precitados são reflexos de informações que temos mesmo sem visitar o país. Sabemos que o Chile é um país super conservador. Concordo com o Charles. Mais cuidado.

    Caio Cerqueira

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