quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Muitas surpresas em Arroyo Verde

por Tássia Camila
O que esperávamos encontrar no bloqueio da fronteira Fray Bentos/Gualeguaychu eram guerrilheiros armados, escondendo os rostos, evitando contato com quem se aproximasse. Apenas três caravaneiros desceram do ônibus, ao chegar ao local - Tássia, Danilo e Felippe - sem câmeras na mão, para "negociar" nossa entrada.


O que percebemos, então, foi nossa própria ignorância e desconhecimento sobre o movimento das papeleras. A mídia cria, muitas vezes, uma atmosfera de tensão que não existe e este tipo de surpresa mostra o quanto é fundamental o contato in locu. Não havia armas, guerrilheiros ou nada do tipo; apenas pessoas de uma faixa etária de 40 a 60 anos, que nos recepcionaram de modo surpreendente! Ficaram felizes em saber que somos estudantes brasileiros e que tomamos conhecimento deles de tão longe... Convidaram-nos a conhecer a “sede” que ficava lá mesmo no “corte” e se chamava Arroyo Verde. Tiramos muitas, muitas fotos, filmamos tudo, tomamos muitas notas...


Percebemos que a luta deles é muito peculiar, pois o movimento é um processo da cidade inteira. Eles não são ambientalistas no sentido clássico da palavra, são pessoas comuns que, afetados por um problema comum, decidiram tomar uma posição distinta do habitual. Outro aspecto interessante é que, mesmo com uma estrutura precária de proteção do corte (apenas um policial, alguns senhores de idade e algumas donas de casa), nunca houve uma tentativa por parte do governo argentino de retirada da barreira.




Depois de mais de uma hora de papo, não só nos permitiram cruzar o corte, como também nos convidaram a conhecer a cidade de Gualeguaychu e participar da assembléia que ocorreria à noite. A assembléia ocorre todas as quartas-feiras e se tomam decisões importantes relacionadas ao "piquete" (eles não gostam que se chame de piquete, pois é uma manifestação 100% pacífica). As pautas são apresentadas, votadas, há informes, discordâncias, inquietações... tudo muito parecido com qualquer assembléia. Alguns inclusive não gostaram de saber que nós cruzamos o corte, mas a receptividade foi maravilhosa: informaram que nós estávamos presentes (estudantes do Brasil) e fomos aplaudidos longamente. A pauta da assembléia é que foi uma coisa muito interessante e de muita sorte da nossa parte. Alguém comprou as terras ao redor do corte e estava permitindo por dentro de suas terras o trânsito de carros com madeiras.





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